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GLAUCIA | "Quebras do pacto democrática" enfraquecem data
A Proclamação da República Brasileira, ocorrida em 15 de novembro de 1889, é celebrada hoje com um feriado nacional. Porém, nas cidades da RMC (Região Metropolitana de Campinas), não existe evento organizado pelo poder público para celebrar a data.
A "coloração de golpe militar" e as quebras do pacto democrático são apontados por especialistas ouvidos pelo TODODIA para explicar porque o feriado não tem a mesma adesão de outras datas, como o 7 de setembro.
Liderada por Marechal Deodoro da Fonseca, principal chefe do Exército Brasileiro na época, a proclamação culminou numa notificação à Família Real, ordenando a saída do imperador e de sua corte do País. A transição de império para república pegou a sociedade civil de surpresa.
Segundo a professora de história da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Campinas, Glaucia Fraccaro, existe uma interpretação de que a população assistiu "bestalizada" à proclamação da república. "Essa é um teoria do historiador José Murilo de Carvalho. Ele diz que a república não era uma aspiração do povo brasileiro, que viu acontecer aquilo sem uma adesão (...). A própria monarquia estava fragilizada. Um dos pilares mais forte era a escravidão. Terminar a escravidão era enfraquecer a monarquia", disse.
Em 1888, um ano antes da proclamação, houve a abolição da escravatura. Tal movimento desagradou os fazendeiros produtores de café e "eclodiu" em apoio à república nas regiões de Campinas e Itu, como explica o jornalista e escritor de romances históricos Luiz Roberto Saviani Rey. "Esse movimento republicano se concentra em áreas ricas, de produtores de café. Era do interesse da oligarquia cafeeira para favorecer seus interesses econômicos", afirmou Rey.
Na visão do jornalista, o caráter elitista inicial da república dificultou o reconhecimento do povo em se identificar com aquilo, já que o primeiro presidente eleito por voto direto só tomaria posse cinco anos depois da proclamação. Prudente de Moraes foi o terceiro presidente da república, eleito por voto popular em 1894. "O que me parece é que o evento em si tem um peso menor do que a Independência (7 de setembro), que tem um charme. Muitos historiadores e pessoas do meio político veem na proclamação uma espécie de golpe", comentou Rey.
Atualmente, a falta de empatia com o dia da proclamação da república se daria pelas constantes "quebras do pacto democrático", segundo a professora Glaucia.
"Em toda república, de 1889 até 2016, os períodos políticos no Brasil se intercalam entre ditadura e estado de sítio, com rompimentos do pacto democrático por parte de uma suposta normalidade constitucional. São vários momentos de rompimento. (...) A república ainda é uma instituição jovem que precisa mostrar que a força vem da população", ponderou.
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