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sexta-feira, 18 de novembro de 2016

10 perguntas para entender o conflito entre israelenses e palestinos

Tanque israelense próximo à fronteira da Faixa de Gaza (foto: Epa)Image copyrightEPA
Image captionUm mês após o início da guerra na Faixa de Gaza, israelenses e palestinos vivem período de trégua
Israel anunciou a retomada dos ataques aéreos a Gaza, após militantes palestinos terem disparados foguetes contra o território israelense após o final de um período de 72 horas de cessar-fogo, encerrado na manhã desta sexta-feira.
O Exército israelense classificou os ataques como "inaceitáveis, intoleráveis e míopes". O grupo militante palestino Hamas, que controla a Faixa de Gaza, havia rejeitado a extensão do cessar-fogo, alegando que Israel não atendeu suas demandas.
O atual conflito na Faixa de Gaza já dura um mês, sem perspectivas de um acordo de longo prazo que coloque fim à violência que já matou mais de 1.900 pessoas, a maioria civis.
As cicatrizes do confronto são visíveis, principalmente na Faixa de Gaza. De acordo com a ONU, cerca de 373 mil crianças irão necessitar de apoio psicossocial. Aproximadamente 485 mil pessoas foram deslocadas para abrigos de emergência ou casas de outras famílias palestinas.
Além disso, 1,5 milhão de pessoas que não vivem em abrigos estão sem acesso a água potável.
Mas para compreender o conflito israelense-palestino é preciso olhar além dos números.
A BBC responde a dez perguntas básicas para entender por que esse antigo conflito entre israelenses e palestinos é tão complexo e polarizado.

1. Como o conflito começou?

Image copyrightAP
O movimento sionista, que procurava criar um Estado para os judeus, ganhou força no início do século 20, incentivado pelo antissemitismo sofrido por judeus na Europa.
A região da Palestina, entre o rio Jordão e o mar Mediterrâneo, considerada sagrada para muçulmanos, judeus e católicos, pertencia ao Império Otomano naquele tempo e era ocupada, principalmente, por muçulmanos e outras comunidades árabes. Mas uma forte imigração judaica, alimentada por aspirações sionistas, começou a gerar resistência entre as comunidades locais.
Após a desintegração do Império Otomano na Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido recebeu um mandato da Liga das Nações para administrar o território da Palestina.
Mas, antes e durante a guerra, os britânicos fizeram várias promessas para os árabes e os judeus que não se cumpririam, entre outras razões, porque eles já tinham dividido o Oriente Médio com a França. Isso provocou um clima de tensão entre árabes e nacionalistas sionistas que acabou em confrontos entre grupos paramilitares judeus e árabes.
Após a Segunda Guerra Mundial e depois do Holocausto, aumentou a pressão pelo estabelecimento de um Estado judeu. O plano original previa a partilha do território controlado pelos britânicos entre judeus e palestinos.
Após a fundação de Israel, em 14 de maio de 1948, a tensão deixou de ser local para se tornar questão regional. No dia seguinte, Egito, Jordânia, Síria e Iraque invadiram o território. Foi a primeira guerra árabe-israelense, também conhecida pelos judeus como a guerra de independência ou de libertação. Depois da guerra, o território originalmente planejado pela Organização das Nações Unidas para um Estado árabe foi reduzido pela metade.
Para os palestinos, começava ali a nakba, palavra em árabe para "destruição" ou "catástrofe": 750 mil palestinos fugiram para países vizinhos ou foram expulsos pelas tropas israelenses.
Mas 1948 não seria o último ano de confronto entre os dois povos. Em 1956, Israel enfrentou o Egito em uma crise motivada pelo Canal de Suez, mas o conflito foi definido fora do campo de batalha, com a confirmação pela ONU da soberania do Egito sobre o canal, após forte pressão internacional sobre Israel, França e Grã-Bretanha.
Em 1967, veio a batalha que mudaria definitivamente o cenário na região - a Guerra dos Seis Dias. Foi uma vitória esmagadora para Israel contra uma coalizão árabe. Após o conflito, Israel ocupou a Faixa de Gaza e a Península do Sinai, do Egito; a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) da Jordânia; e as Colinas de Golã, da Síria. Meio milhão de palestinos fugiram.
Israel e seus vizinhos voltaram a se enfrentar em 1973. A Guerra do Yom Kippur colocou Egito e Síria contra Israel numa tentativa dos árabes de recuperar os territórios ocupados em 1967.
Em 1979, o Egito se tornou o primeiro país árabe a chegar à paz com Israel, que desocupou a Península do Sinai. A Jordânia chegaria a um acordo de paz em 1994.

2. Por que Israel foi fundado no Oriente Médio?

A religião judaica diz que a área em que Israel foi fundado é a terra prometida por Deus ao primeiro patriarca, Abraão, e seus descendentes.
A região foi invadida pelos antigos assírios, babilônios, persas, macedônios e romanos. Roma foi o império que nomeou a região como Palestina e, sete décadas depois de Cristo, expulsou os judeus de suas terras depois de lutar contra os movimentos nacionalistas que buscavam independência.
Com o surgimento do Islã, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e depois conquistada pelas cruzadas europeias. Em 1516, estabeleceu-se o domínio turco, que durou até a Primeira Guerra Mundial, quando o mandato britânico foi imposto.
A Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina disse em seu relatório à Assembleia Geral em 3 de setembro de 1947 que as razões para estabelecer um Estado judeu no Oriente Médio eram baseados em "argumentos com base em fontes bíblicas e históricas", na Declaração de Balfour de 1917 - em que o governo britânico se pôs favorável a um "lar nacional" para os judeus na Palestina - e no mandato britânico na Palestina.
Reconheceu-se a ligação histórica do povo judeu com a Palestina e as bases para a constituição de um Estado judeu na região.
Após o Holocausto nazista contra milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, cresceu a pressão internacional para o reconhecimento de um Estado judeu.
Sem conseguir resolver a polarização entre o nacionalismo árabe e o sionismo, o governo britânico levou a questão à ONU.
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral aprovou um plano de partilha da Palestina, que recomendou a criação de um Estado árabe independente e um Estado judeu e um regime especial para Jerusalém.
O plano foi aceito pelos israelenses mas não pelos árabes, que o viam como uma perda de seu território. Por isso, nunca foi implementado.
Um dia antes do fim do mandato britânico da Palestina, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel, representante dos judeus durante o mandato, declarou a independência do Estado de Israel.
No dia seguinte, Israel solicitou a adesão à ONU, condição que alcançou um ano depois. Hoje, 83% dos membros da ONU reconhecem Israel (160 de 192).

3. Por que há dois territórios palestinos?

Relatório da Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina à Assembleia Geral, em 1947, recomendou que o Estado árabe incluiria a área oeste da região da Galileia, a região montanhosa de Samaria e Judeia com a exclusão da cidade de Jerusalém e a planície costeira de Isdud até a fronteira com o Egito.
Mas a divisão do território foi definida pela linha de armistício de 1949, estabelecida após a primeira guerra árabe-israelense.
Os dois territórios palestinos são a Cisjordânia (incluindo Jerusalém Oriental) e a Faixa de Gaza. A distância entre eles é de cerca de 45 km de distância. A área é de 5.970 km2 e 365 km2, respectivamente.
Originalmente ocupada por Israel, que ainda mantém o controle de sua fronteira, Gaza foi ocupada pelo Exército israelense na guerra de 1967 e foi desocupada apenas em 2005. O país, no entanto, mantém um bloqueio por ar, mar e terra que restringe a circulação de mercadorias, serviços e pessoas.
Gaza é atualmente controlada pelo Hamas, o principal grupo islâmico palestino que nunca reconheceu os acordos assinados entre Israel e outras facções palestinas.
A Cisjordânia é governada pela Autoridade Nacional Palestina, governo palestino reconhecido internacionalmente, cujo principal grupo, o Fatah, é laico.

4. Israelenses e palestinos nunca se aproximaram da paz?

Após a criação do Estado de Israel e o deslocamento de milhares de pessoas que perderam suas casas, o movimento nacionalista palestino começou a se reagrupar na Cisjordânia e em Gaza, controlados pela Jordânia e Egito, respectivamente, e nos campos de refugiados criados em outros países árabes.
Pouco antes da guerra de 1967, organizações palestinas como o Fatah, liderado por Yasser Arafat, formaram a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e lançaram operações contra Israel, primeiro a partir da Jordânia e, depois, do Líbano. Os ataques também incluíram alvos israelenses em solo europeu.
Em 1987, teve-se início o primeiro levante palestino contra a ocupação israelense. A violência se arrastou por anos e deixou centenas de mortos. Um dos efeitos da intifada foi a assinatura, entre a OLP e Israel em 1993, dos acordos de paz de Oslo, nos quais a organização palestina renunciou à "violência e ao terrorismo" e reconheceu o "direito" de Israel "de existir em paz e segurança", um reconhecimento que o Hamas nunca aceitou.
Após os acordos assinados em Oslo, foi criada a Autoridade Nacional Palestina, que representa os palestinos nos fóruns internacionais. O presidente é eleito por voto direto. Ele, por sua vez, escolhe um primeiro-ministro e os membros de seu gabinete. Suas autoridades civis e de segurança controlam áreas urbanas (zona A, segundo Oslo). Somente representantes civis - e não militares - governam áreas rurais (área B).
Jerusalém Oriental, considerada a capital histórica de palestinos, não está incluída neste acordo e é uma das questões mais polêmicas entre as partes.
Mas, em 2000, a violência voltou a se intensificar na região, e teve início a segunda intifada palestina. Desde então, israelenses e palestinos vivem num estado de tensão e conflito permanentes.

5. Quais são os principais pontos de conflito?

Bill Clinton (à esq.) e Yasser Arafat (à. dir) Foto: APImage copyrightAP
A demora na criação de um Estado palestino independente, a construção de assentamentos israelenses na Cisjordânia e a barreira construída por Israel - condenada pelo Tribunal Internacional de Haia - complicam o andamento de um processo paz.
Mas estes não são os únicos obstáculos, como ficou claro no fracasso das últimas negociações de paz sérias, em Camp David, nos Estados Unidos, em 2000, quando o então presidente Bill Clinton não conseguiu chegar a um acordo entre Arafat e o primeiro-ministro de Israel, Ehud Barak.
As diferenças que parecem irreconciliáveis são:
Jerusalém: Israel reivindica soberania sobre a cidade inteira (sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos) e afirma que a cidade é sua capital “eterna e indivisivel”, após ocupar Jerusalém Oriental em 1967. A reivindicação não é reconhecida internacionalmente. Os palestinos querem Jerusalém Oriental como sua capital.
Fronteiras: os palestinos exigem que seu futuro Estado seja delimitado pelas fronteiras anteriores a 4 de junho de 1967, antes do início da Guerra dos Seis Dias, o que incluiria Jerusalém Oriental, o que Israel rejeita.
Assentamentos: ilegais sob a lei internacional, construídos pelo governo israelense nos territórios ocupados após a guerra de 1967. Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental há mais de meio milhão de colonos judeus.
Refugiados palestinos: os palestinos dizem que os refugiados (10,6 milhões, de acordo com a OLP, dos quais cerca de metade são registrados na ONU) têm o direito de voltar ao que é hoje Israel. Mas, para Israel, permitir o retorno destruiria sua identidade como um Estado judeu.

6. A Palestina é um país?

A ONU reconheceu a Palestina como um "Estado observador não membro" no final de 2012, deixando de ser apenas uma "entidade” observadora.
A mudança permitiu aos palestinos participar de debates da Assembleia Geral e melhorar as chances de filiação a agências da ONU e outros organismos.
Mas o voto não criou um Estado palestino. Um ano antes, os palestinos tentaram, mas não conseguiram, apoio suficiente no Conselho de Segurança.
Quase 70% dos membros da Assembleia Geral da ONU (134 de 192) reconhecem a Palestina como um Estado.

7. Por que os EUA são o principal parceiro de Israel? Quem apoia os palestinos?

A existência de um importante e poderoso lobby pró-Israel nos Estados Unidos e o fato da opinião pública ser frequentemente favorável a Israel faz ser praticamente impossível a um presidente americano retirar apoio a Israel.
De acordo com uma pesquisa encomendada pela BBC no ano passado em 22 países, os EUA foram o único país ocidental com opinião favorável a Israel, e o único país na pesquisa com uma maioria de avaliações positivas (51%).
Além disso, ambos os países são aliados militares: Israel é um dos maiores receptores de ajuda americana, grande parte destinada a subsídios para a compra de armas.
Palestinos não têm apoio aberto de nenhuma potência.
Na região, o Egito deixou de apoiar o Hamas, após a deposição pelo Exército do presidente islamita Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana - historicamente associada ao Hamas. Hoje em dia o Catar é o principal país que apoia o Hamas.

8. Por que estão se enfrentando agora?

Após o colapso das negociações de paz patrocinadas pelos Estados Unidos e o anúncio, no início de junho, de um governo de união nacional entre as facções palestinas Fatah e Hamas, considerado inaceitável por Israel, iniciou-se uma nova onda de violência.
No dia 12 de junho, três jovens israelenses foram sequestrados na Cisjordânia e, dias depois, encontrados mortos. Israel culpou o Hamas e prendeu centenas de membros do grupo.
Israel reconheceu posteriormente que não poderia garantir se os responsáveis teriam sido o Hamas ou um grupo independente.
Após as prisões, o Hamas disparou foguetes contra território israelense. Israel lançou ataques aéreos em Gaza.
Em 2 de julho, um dia após o funeral dos jovens israelenses, um palestino de 16 anos foi sequestrado em Jerusalém Oriental e assassinado. Três israelenses foram acusados de queimá-lo vivo e, em Gaza, houve um aumento do disparo de foguetes contra Israel.
No dia 8 de julho, o Exército de Israel lançou uma operação contra militantes do Hamas na Faixa de Gaza.

9. Como israelenses e palestinos justificam a violência?

A decisão de iniciar uma incursão terrestre em Gaza tem, segundo Israel, um objetivo: desarmar os militantes palestinos e destruir os túneis construídos pelo Hamas e outros grupos a fim de se infiltrar em Israel para realizar ataques.
Israel quer o fim do lançamento de foguetes do Hamas contra território israelense. A maioria dos foguetes não tem nenhum impacto, já que o país conta com um sistema antimísseis avançado, o Domo de Ferro.
Israel diz ter o direito de defender-se e acusa o Hamas de usar escudos humanos e realizar ataques a partir de áreas civis em Gaza. O grupo palestino nega.
O Hamas diz que lança foguetes contra Israel em legítima defesa, em retaliação à morte de partidários do grupo por Israel e dentro de seu direito de resistir à ocupação e ao bloqueio.

10. O que falta para que haja uma oportunidade de paz duradoura?

Tropas israelenses (foto: AP)Image copyrightAP
Israelenses teriam de aceitar a criação de um Estado soberano para os palestinos, o fim do bloqueio à Faixa de Gaza e o término das restrições à circulação de pessoas e mercadorias nas tres áreas que formariam o Estado palestino: Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza.
Grupos palestinos deveriam renunciar à violência e reconhecer o Estado de Israel.
Além disso, eles teriam que chegar a acordos razoáveis sobre fronteiras, assentamentos e o retorno de refugiados.
No entanto, desde 1948, ano da criação do Estado de Israel, muitas coisas mudaram, especialmente a configuração dos territórios disputados após as guerras entre árabes e israelenses.
Para Israel, estes são fatos consumados, mas os palestinos insistem que as fronteiras a serem negociadas devem ser aquelas existentes antes da guerra de 1967.
Além disso, enquanto no campo militar as coisas estão cada vez mais incontroláveis na Faixa de Gaza, há uma espécie de guerra silenciosa na Cisjordânia, com a construção de assentamentos israelenses, o que reduz, de fato, o território palestino nestas áreas.
Mas talvez a questão mais complicada pelo seu simbolismo seja Jerusalém, a capital tanto para palestinos e israelenses.
Tanto a Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, quanto o grupo Hamas, em Gaza, reinvindicam a parte oriental como a capital de um futuro Estado palestino, apesar de Israel tê-la ocupado em 1967.
Um pacto definitivo nunca será possível sem resolver este ponto.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Mulher morre após culto evangélico. Fieis achavam que era 'encosto'


Mulher passa mal e morre em culto evangélico: crise asmática seguida de convulsão e queda. Fieis disseram que ela estava possuída e chamaram o pastor em vez de socorro médico

Durante um culto na casa de uma amiga de igreja, Lúcia Fernandes Santana (foto), 55, caiu, teve convulsão e de sua boca sangrou. Ela estava tendo uma crise asmática, mas os fiéis acharam que estava “possuída” e oraram para livrá-la do Satanás.
Como Lúcia continuou passando mal, cerca de meia hora depois os fiéis chamaram um pastor para reforçar as orações, mas ele se convenceu de que não se tratava de “encosto”e mandou pedir socorro de uma ambulância.
Lúcia morreu no Hospital de Base, em São José do Rio Preto (SP).
De acordo com o atestado de óbito e de testemunhas, Lúcia morreu por causa de sangramento do crânio causado pela sua queda. Ela caiu porque teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) provocado pela asma. As informações são do Diário da Região.
O pneumologista João Batista Salomão confirmou que quem sofre de asma grave pode perder a consciência e ter um AVC se ficar sem socorro médico em torno de dez minutos.
M.S.F.S., 36, a nora da evangélica, declarou que os fiéis deveriam chamar logo a família de Lúcia e um socorro médico.
“Na casa [onde se celebrava o culto], havia gato, e Lúcia tinha asma. Quando começou a passar mal, ela pediu a bombinha que tinha ficado na casa dela, mas eles [os fiéis] fizeram confusão e acharam que ela estava possuída.”
A nora acredita que Lúcia não teria morrido se tivesse sido atendida a tempo por um médico. “Mas só Deus para saber isso.”

Rede Globo: histórias muito além do Plim-Plim

Influenciar resultados eleitorais, impor hábitos e maneiras de falar ou se vestir são atribuições da televisão desde seus primórdios no Brasil, dada a sua presença marcante na vida de todo brasileiro. Mas uma emissora de TV bem conhecida de todo o público sai na frente no cumprimento desses quesitos. É claro que me refiro à Rede Globo de Televisão.

Em nenhum outro país do mundo uma única emissora de TV exerce tanto poder e influência no comportamento político e social de um país como a Globo exerce no Brasil. Tal fato não é saudável para a nossa democracia nem para a sociedade, que tem na TV Globo uma dos poucos meios de informação e entretenimento, sua principal janela para o Brasil e o mundo.

Símbolo da mídia concentrada e anti-democrática

A Rede Globo é a que melhor simboliza a concentração da mídia no país. A empresa detém metade de toda a verba de anúncios comerciais para a mídia em geral, além de garantir aos seus cofres quase 80% de todo o dinheiro destinado para a TV aberta comercial (o restante é dividido entre as outras cinco redes de televisão). A TV Globo é a principal fonte de informação e entretenimento para a grande maioria da população. Sua programação alcança praticamente todo o Brasil, chegando a 5.482 municípios (ou 98,53% do território nacional e 99,47% da população).

Seu conteúdo extremamente padronizado, produzido quase inteiramente no eixo Rio-São Paulo, é levado a uma nação imensa e com inúmeros contrastes sócio-culturais. Nas novelas, principal produto audiovisual da emissora, o que prevalece é o padrão de vida da classe média-alta carioca e paulistana, onde pobres e negros são sempre a minoria.

A TV Globo domina toda a cadeia produtiva televisiva. Ela mesma produz, veicula e distribui seus próprios produtos audiovisuais. Resumindo, ela produz 90% de tudo que exibe em sua programação, segundo informações de sua 
página na internet. Conseqüentemente, a produção regional conta com um espaço ínfimo na grade da emissora, sendo resumida ao jornalismo local das afiliadas; e a produção independente, com presença quase nula, vez ou outra emplaca uma obra na “fortaleza global”. Toda a pluralidade e a multidiversidade, tão características de nossas regiões brasileiras, não podem ser vistas em cadeia nacional pelos brasileiros, que são levados a escutar um sotaque uniformizado oriundo do centro-sul (leia-se Rio e São Paulo).

A audiência média da emissora (medida pelo IBOPE) chega a quase 60%, dominando sem maiores ameaças corações e mentes de milhões de brasileiros. No horário nobre (entre 20 e 22 horas), a audiência alcança índices de Copa do Mundo, o que a leva a deter a maior fatia dos recursos publicitários. Um modelo de negócios desigual, que afeta diretamente outras emissoras e prejudica a concorrência. Essa pode ser uma boa explicação para aqueles que ainda acreditam que a Globo é a primeira em tudo apenas por ter a “melhor” programação. Mas não é tão simples assim! Veja por quê!

É de perder de vista o “império” midiático edificado pelos Marinho. Sob o poder das Organizações Globo estão inúmeros veículos, sendo a única empresa de comunicação no Brasil que detém todos os tipos de mídia, entre jornais diários, revistas, portais de internet, emissoras de rádio AM e FM, canais de TV em VHF e UHF, TV Paga, entre outros. Ela controla a Som Livre (gravadora musical), a Editora Globo (que edita a revista Época e outras dezenas de títulos, que vão desde revistas em quadrinhos até publicações segmentadas para jovens e mulheres), as rádios CBN e Globo, a NET(maior operadora de TV paga do país), três jornais (O GloboExtra e Diário de São Paulo), e a Globo.com, que reúne cerca de 350 sites, entre eles o Portal G1, o Paparazzo e o Globoesporte.com, que distribuem todo o conteúdo da Rede Globo na internet.


Não se perca nos números, pois ainda não acabou! Sob sua tutela, ainda aparecem cinco emissoras de TV próprias (Rio, São Paulo, Brasília, Recife e Belo Horizonte) e, como afiliadas, cerca de 120 emissoras espalhadas pelo país que retransmitem a programação da Rede Globo. São 29 grupos de comunicação que atuam em parceria com o maior conglomerado de mídia da América Latina.

Os negócios da Globo também alcançam o mundo, com a TV Globo Internacional e a Globo TV Sports, responsável por distribuir eventos esportivos nacionais a vários outros países. O Brasil – quero dizer, Rio e São Paulo, salvo raríssimas exceções - é exportado para todos os continentes por meio das novelas e minisséries.

Ao verificarmos a presença da Rede Globo em âmbito regional, ou seja, nos estados, fica evidente o predomínio dos veículos afiliados à emissora. Jornais, emissoras de rádio ou de televisão, não importa, desde que estejam ligados a alguma afiliada da Rede Globo esses meios dominam a audiência em seus estados e ainda se constituem em verdadeiros conglomerados de mídia regionais. É o conhecido “monopólio em cruz” praticado pela Globo e que se reflete na esfera local.

As relações com o poder

A Rede Globo nasceu e cresceu na ditadura militar, em 1965, quando o Brasil passou por momentos de muita violência, como a censura, a tortura e a morte de cidadãos contrários ao regime militar e ao fim das liberdades civis e políticas. Foi graças à ditadura que Roberto Marinho (já falecido) ganhou a concessão de um canal de TV que, mais tarde, alcançaria o país de norte a sul.

A constituição da emissora como rede nacional de televisão se deu graças ao projeto dos militares de unificar o país no plano das consciências. Uma grande infra-estrutura de telecomunicações foi então erguida para colocar em prática esse ideal militar, o que beneficiou economicamente as empresas de mídia que se expandiam na época. É o que podemos chamar de convergência de interesses entre militares e radiodifusores.

Mas para que a Globo se tornasse um grande império de comunicação e conquistasse a liderança na preferência dos brasileiros, ela apoiou a ditadura militar em troca de inúmeros benefícios. Um exemplo das ilegalidades praticadas pela emissora na época foi um polêmico contrato firmado com uma empresa de comunicação dos Estados Unidos (a Time-Life) para que conseguisse montar toda a estrutura necessária à implantação da TV, fato que deixou a Globo muito à frente das demais emissoras. Isso implicou, posteriormente, a criação de uma CPI e também mudanças na legislação das comunicações da época.

Com o passar dos anos, a Rede Globo construiu uma relação íntima e perigosa com o poder político no Brasil. A forte influência da emissora sobre a população ajudou a eleger algumas autoridades importantes, como dois presidentes da República (Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso), além de servir de palanque eleitoral a tantos outros poderosos que atenderam aos interesses privados da emissora.

Vale lembrar que alguns dos políticos mais tradicionais do Brasil controlam emissoras de rádio e TV afiliadas à Rede Globo, a exemplo dos senadores José Sarney (Sistema Mirante de Comunicação, no Maranhão), da família do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (o ACM, já falecido, da Rede Bahia de Televisão, na Bahia), e do senador e ex-presidente da República Fernando Collor de Melo (TV Gazeta de Alagoas), apenas para citar alguns representantes do chamado coronelismo eletrônico.

Globo: empresa ou partido político?
Embora haja resistência de alguns quanto a esse conceito, a história brasileira recente confirma a tese de que a Rede Globo atuou como um partido político. O caso mais emblemático aconteceu com o então candidato à presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno da primeira eleição direita para presidente após a ditadura militar. Lula, o candidato da esquerda, disputou com o desconhecido Fernando Collor de Melo, vendido pela grande mídia nacional como o “caçador de marajás”, aquele que salvaria o país da “ameaça vermelha”, liderada pelo Partido dos Trabalhadores (PT).

Era preciso frear a suposta ameaça comunista, personificada no líder operário grevista. Pouco antes da realização do segundo turno em 1989, Lula e Collor foram colocados frente à frente num debate transmitido pela Rede Globo que, mais tarde, passaria por um processo maquiavélico de manipulação e distorção de sentidos. Após uma edição maliciosa da emissora, e por ordens superiores, a montagem da farsa eleitoral foi exibida nos principais telejornais da Globo para todo o país.

Lula foi apresentado em seus piores momentos no debate, enquanto o candidato das elites saiu como “vitorioso”. Nos dias que antecederam ao debate, Lula e Collor travaram uma disputa praticamente equilibrada no âmbito das pesquisas, até que “os donos da mídia e do Brasil” nos revelaram quem realmente são e o que podem fazer caso se sintam ameaçados em seus tronos midiáticos.

O final dessa história creio que todos saibam: Collor foi eleito presidente do Brasil e, dois anos depois, por denúncias de corrupção, deixou o cargo graças a um impeachment. E a mesma mídia que o colocou no poder máximo da República, ajudou a destituí-lo. (Duas obras comprovam essas afirmações: Jornal Nacional – A notícia faz história, Jorge Zahar Editor, e o clássico 
A história secreta da Rede Globo, de Daniel Herz, este último disponível para download gratuito).
Outro momento magistral da história política brasileira, em que a Rede Globo atuou como protagonista, se passou durante as manifestações das Diretas Já!, que pedia eleições diretas para presidente da República. Grandes comícios ocorreram pelo país e levavam multidões às ruas, mas a Globo relutou o quanto pôde a transmiti-los. O movimento das Diretas pedia nada mais nada menos que democracia. Isso talvez explique a postura indiferente da emissora diante do fato e, posteriormente, sua fraca cobertura daquele acontecimento.
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A história da Rede Globo não foi registra apenas por livros. Um documentário polêmico e repleto de depoimentos sobre a rede de TV dos Marinho foi produzido por Simon Hartog para a BBC de Londres. A produção, datada de 1993, narra as políticas de comunicações no Brasil e as relações da Globo com o poder político desde a ditadura militar até dias mais atuais.
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Embora seja fácil encontrá-lo em diversas páginas na internet, o documentário foi censurado pela Rede Globo, condição em que se encontra até hoje. E aqui você pode assisitir a um vídeo-resumo, de pouco mais de 12 minutos, do único documentário produzido sobre as peripécias e as manipulações grosseiras da Globo na vida dos brasileiros. Você ainda podem baixar o vídeo completo neste link (BAIXAR 4 - Vídeo completo/Desconhecido (Fonte)), retirado de Pausa para a Filosofia .
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Discurso ideológico disfarçado de informação
Mas as atuações político-ideológicas não param por aí! Entre 2005 e 2006, na tentativa de evitar a reeleição de Lula (mais uma vez ele na mira da “Vênus Platinada”), várias foram as notícias negativas divulgadas pelos meios de comunicação da Globo contra o PT e o presidente, e muitas sem a devida apuração e comprovação. Até a palavra “mensalão” foi cunhada e repetida exaustivamente para designar práticas corruptas supostamente “inauguradas” (atenção às aspas!) pelos petistas. Dessa vez, porém, o povo mostrou que ele próprio é o dono de seu voto e não se ilude com farsas. (Sobre esse tema, pode ser consultado o livro A Mídia nas eleições de 2006, de Venício Arthur de Lima, da editora Fundação Perseu Abramo).

O conglomerado da família Marinho também costuma perseguir em seus telejornais movimentos populares legítimos, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), injustamente tachados como “invasores” e “baderneiros”, e ainda distorce informações importantes sobre autoridades eleitas pelo povo, a exemplo do que faz contra os presidentes Hugo Chávez (Venezuela) e Evo Morales (Bolívia), ambos meros “ditadores populistas”, segundo os editores da rede de televisão “mais democrática do país” (atenção mais uma vez às aspas!). O “outro lado”, regra primária do jornalismo, é algo estranho tanto à Globo como a toda grande mídia privada brasileira.

Como se não bastasse tantas “benfeitorias”, ainda nos deparamos com um discurso descaradamente pró-Bush e suas guerras macabras, que se repetem desde a invasão do Afeganistão e do Iraque pelos EUA até a política terrorista de Israel contra o povo palestino. Tudo isso é facilmente observado e comprovado no telejornalismo da Globo, e sem qualquer esforço. Fato este infelizmente detectado em outras grandes emissoras de TV no país.

Como se percebe, quando os interesses políticos e financeiros da Globo se vêem ameaçados, seja dentro ou fora do Brasil, ela revela sua verdadeira face! Onde está a “velha” conhecida democracia, tão lembrada e defendida nos discursos da Rede Globo? Será que ainda podemos confiar em tudo que diz a TV do PLIM-PLIM? Definitivamente, Democracia e Rede Globo são expressões completamente antagônicas!

Até a próxima!

Quem Realmente Matou Jesus?

 Anízio Fernandes de Moraes
Hoje, 06/07/2004 (d.C.) começo, com muito atraso, a responder as questões formuladas pelo jovem Petrick em 12/05/2004 (d.C.). As dúvidas de Petrick são as dúvidas da humanidade, porque o homem Jesus, pela sua importância, dividiu a história da humanidade em duas épocas: antes de Cristo (a. C.) e depois de Cristo (d. C.). A figura de Jesus encantou filósofos, cientistas, historiadores e artistas. A sua bondade e humildade levou a paz, o alívio, a cura a milhões de pessoas. Porém, com tudo o que foi dito a seu respeito, ele continua a ser um grande mistério.
O que sabemos sobre Jesus vem dos Evangelhos. A veracidade dos textos são contestadas por historiadores e teólogos. Há grande número de evangelhos, mas apenas quatro são aceitos por todas as igrejas cristãs: os chamados "canônicos" (de acordo com a regra) atribuídos a Marcos, Mateus, Lucas e João. Os demais foram considerados "apócrifos" (não autênticos). O Evangelho mais antigo, o de Marcos, foi redigido entre 66 e 68 d.C.. Os de Mateus e Lucas na década de 80 d.C.. Entre 90 e 110 d.C. foi concluído o de João. Por este motivo os evangelhos não são totalmente confiáveis, pois suas composições foram relativamente tardias, ou seja, escritas várias décadas após a morte de Jesus. Os Evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas são muito semelhantes (possuem 330 versículos em comum), o que nos leva a pensar que mantiveram algum contato na elaboração dos evangelhos. Por isso são chamados de "sinóticos" (num rápido olhar se vê todas as partes do conjunto).
Tudo o que se sabe até hoje sobre Jesus está fundamentado em pesquisas científicas, fruto da análise de historiadores e cientistas e no estudo dos evangelhos e documento afins.
I - A época em que Jesus viveu
Para respondermos às questões de Petrick é necessário que conheçamos a época em que Jesus viveu, ou seja, estudar o ambiente político, social e religioso. Como sabemos, a humanidade vive ao sabor das alternâncias dessas três forças, que condicionam o comportamento e determinam direitos e obrigações.
Vamos comentar rapidamente alguns aspectos sobre o surgimento da nação judaica, para que possamos entender os aspectos psicológicos que norteiam o povo palestino, canalizados para um fanatismo religioso, no qual se identificam como o povo eleito de Deus.
Na época em que Jesus viveu, há dois mil anos, os territórios que correspondem hoje a Israel e à Palestina se encontravam sob o domínio romano. Esta região, ainda hoje, é palco de graves conflitos envolvendo judeus e palestinos, motivados por questões políticas e religiosas, mais políticas do que religiosas. Antes disso, desde o século 6 a.C., a região fora conquistada sucessivamente por babilônios, persas e gregos. Roma consolidou sua ocupação em 63 a . C.
A história da nação Israel se iniciou com Abraão, o Patriarca, que conversava com Deus e recebeu Dele a missão de conduzir o povo hebreu para Canaã (região da Palestina e da Fenícia), local onde seria constituída uma grande nação.
Abraão era homem de muita fé. A suprema prova da fé de Abraão ocorreu quando, em obediência às instruções de Deus, construiu um altar e preparou-se para oferecer Isaque, seu filho, como sacrifício queimado. No último instante Deus interveio e ofereceu um carneiro como substituto de Isaque.
Israel (Perseverador com Deus). Nome que Deus deu a Jacó quando este tinha cerca de 97 anos. Israel se consolidou como nação após ter o povo israelita se libertado da escravidão do Egito e ter se fixado na terra prometida. "Assim, libertado legalmente do Egito, Israel tornou-se propriedade exclusiva de Jeová. "Somente a vós vos conheci dentre todas as famílias do solo". (Êx 19:5,6). Deus então achou apropriado, contudo, lidar com eles, não estritamente como sociedade patriarcal, mas sim como a nação de Israel, que Ele (Deus) criou, dando-lhe um governo teocrático alicerçado no pacto da Lei como constituição. (Estudo Perspicaz das Escrituras, pg. 450)
Israel era uma nação teocrática, mesmo porque, segundo a Bíblia, o seu governo fora determinado por Deus. Portanto, politicamente falando, os direitos e deveres dos cidadãos eram impostos por pessoas que se achavam investidas de poderes divinos. Essa característica do poder, envolvida por profundo fanatismo religioso, impunha ao povo um regime austero e intransigente. (As análises têm por base a Bíblia)
Como já relatamos no início, a região da Palestina estava ocupada pelo império romano desde 67 a. C.. Assim, Israel tinha um governo teocrático que era subordinado ao imperador romano.
II - Atitudes de Jesus que o levaram a julgamento
Alguém matou Jesus. A morte de Jesus não foi um acidente. Porém, ninguém publicou algo que relatasse o processo e o concluísse trazendo provas irrefutáveis sobre o autor ou autores do crime. Os cristãos não acompanharam o julgamento, pois já tinham fugido quando Jesus foi capturado. A elite sacerdotal ou o poder romano nada registrou, porque Jesus era insignificante para eles. Quem realmente matou Jesus: a elite judaica; os romanos; os judeus, ou o próprio Jesus?
Segundo os Evangelhos, Jesus foi levado diante do Sinédrio, na presença do Sumo Sacerdote Caifás, onde os escribas e anciãos estavam reunidos. O chefe dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um falso testemunho contra Jesus, a fim de matá-lo. Apresentaram-se duas falsas testemunhas que afirmaram ter Ele dito: "Posso destruir o Templo de Deus e edificá-lo depois de três dias" por ter afirmado que era Cristo, filho de Deus (Mt 26: 57-68), faltas consideradas graves e por isso foi levado para ser julgado por Pôncio Pilatos,
a) A elite judaicaJesus foi levado a Pilatos, que era o governador romano da Judeia durante o ministério terrestre de Jesus, por ordem das autoridades judaicas para ser julgado sob a acusação de que era subversivo, que defendia o não pagamento de impostos, que iria destruir o templo e que dizia ser rei, rivalizando assim com César. Por quê? ® A atitude de Jesus não foi exatamente pacífica. O episódio está nos Evangelhos. "Numa visita ao Templo de Jerusalém, o coração religioso da Judeia, Jesus expulsa os vendedores de animais e comerciantes instalados nos arredores. "Não faças da casa de meu Pai um mercado!" (Mt 21:12, 13)
Não foi um simples "rapa" nos camelôs. Os comerciantes faziam parte da estrutura de arrecadação do Templo. Os animais eram vendidos a preços exorbitantes. Os cambistas trocavam moedas que os visitantes traziam pela única aceita pelo Templo, o "shekel". Esse dinheiro junto com os impostos cobrados de todos os judeus adultos, faziam do Templo mais do que uma igreja. Na prática era o Banco Central da Judeia, empregando em torno de 18000 homens, que administravam e guardavam imensa fortuna. Esta situação contrariava tudo o que Jesus pregava: igualdade, fraternidade, caridade, etc.
Jerusalém festejava a Páscoa (aniversário da fuga do Egito liderada por Moisés, 1400 anos antes). O Templo recebia entre 200 e 300 mil visitantes de toda a Judeia. Jesus é preso e a acusação (falsa) é de que dissera que destruiria o Templo e o condenaram à morte. Mas o direito de aplicar a pena de morte era exclusividade dos romanos. Diante disso, os chefes religiosos entregaram Jesus ao poder romano.
Os líderes judeus pediam a condenação de Jesus e sua execução. Pilatos, no entanto, não vê crime nos atos de Jesus. Ao saber que Jesus era da Galiléia, enviou-o a Herodes Antipas, judeu, governante distrital (tetrarca) da Galiléia, que era inimigo de Pilatos. Herodes, que era uma pessoa devassa e cruel (Estudo Perspicaz das Escrituras), apenas zombou de Jesus, pedindo-lhe que fizesse milagres, o que não ocorreu. Revestindo Jesus de uma túnica branca, envia-o de volta a Pilatos.
Desejava Pilatos livrar Jesus, pois o julgava inocente. Interroga-o novamente, porém nada encontra para condená-lo e oferece Barrabás, um criminoso, para ser crucificado em seu lugar. O povo pede que soltem o bandido.
Diante da situação incontrolável, Pilatos mandou levar Jesus a um pátio e entregou-o a uma companhia de soldados que o submeteram a terríveis flagelos,
Quem eram os líderes judeus:
"Os "chefes dos sacerdotes" e os "escribas", com freqüência acompanhados dos "anciãos", formam uma tríade sempre ao encalço de Jesus. Quem são essas figuras? O sumo sacerdote, no período da ocupação romana, era nomeado pelo governador, que o escolhia entre as famílias judias dominantes. Caifás, então, era o Sumo Sacerdote, genro de Anás, cuja influência aparentemente ainda se fazia sentir. Os "chefes dos sacerdotes", segundo o padre Raymond Brown (vide bibliografia), eram provavelmente antigos sumos sacerdotes, ao lado de preeminentes membros de famílias entre as quais sumos sacerdotes recentes haviam sido recrutados, e algumas pessoas a quem tinham sido confiadas especiais missões sacerdotais. Os "anciãos" seriam patriarcas das famílias mais ricas e distintas, e os escribas, pessoas que se destacavam pela "inteligência e cultura", entre as quais se encontrariam os "fariseus". Grosso modo, esses três grupos constituiriam o Sinédrio, que no total contava 71 membros." (Revista "Veja"- 04/95)
Caifás: José Caifás era sumo sacerdote durante o ministério terrestre de Jesus. (Lu 3:2). Era genro do sumo sacerdote Anás, seu antecessor. (Jo 18:13). Caifás era saduceu. (At 5:17).
Caifás era líder de um complô para eliminar Jesus. Profetizou que Jesus morreria em breve pela nação, e empenhou-se de todo o coração neste sentido. (Jo 11:49-53: 18:12-14). No julgamento de Jesus perante o Sinédrio, Caifás rasgou a roupa e disse: "Ele blasfemou!" (Mt 26:65), referindo-se ao fato de Jesus reivindicar a dignidade divina. Quando Jesus estava perante Pilatos, Caifás estava sem dúvida presente, clamando: "Para a estaca com ele! Para a estaca com ele! (Jo 19:6, 11); ele foi um dos que pediram que Barrabás fosse liberto, ao invés de Jesus (Mt 27:20, 21; Mr 15:11); estava ali, bradando: "Não temos rei senão César" (Jo 19:15); também estava protestando contra o letreiro afixado sobra a cabeça de Jesus: "O Rei dos Judeus" (Jo 19:21).
Anás: Designado sumo sacerdote por volta de 6 ou 7 EC por Quirino, governador romano da Síria até cerca de 15 EC. (Lu 2:2). Anás era, por conseguinte, sumo sacerdote quando Jesus, aos 12 anos deixou admirados os instrutores rabínicos no templo. (Lu 2:42-49). Quando Jesus foi preso, ele foi primeiro levado a Anás, para interrogatório, e então levado a Caifás, para julgamento. (Jo 18:13). O nome de Anás encabeça a lista dos principais oponentes dos apóstolos de Jesus Cristo. (At 4:6).
Anás era um homem rico, e uma de suas principais fontes de renda era a venda de sacrifícios no templo. Por este fato, tinha razões para matar Jesus, que por duas vezes purificou o templo, que eles tinham transformado num "covil de salteadores". (Jo 2:13-16; Mt 21:12, 13; Mr 11:15-17; Lu 19:45, 46). Um motivo adicional para o ódio que Anás tinha a Jesus e seus apóstolos, era o ensino sobre a ressurreição, cuja prova era a ressurreição de Lázaro, porque sendo Anás saduceu ele não cria na ressurreição. ("Estudo Perspicaz das Escrituras")
b) Os romanosPilatos, como um líder romano, era também responsável pela segurança do império. Ocorriam constantes rebeliões, que desgastavam a tropa. Roma, representada por Pôncio Pilatos, na região da Judeia, governava em conluio com as elites locais. Assim, tanto os sacerdotes (liderados por Caifás, o supremo sacerdote) quanto Herodes (judeu), governante distrital da Galiléia (designado pelo senado romano) podiam coletar impostos para si, desde que mantivessem o povo satisfeito com os romanos e dessem ao César parte da arrecadação. A corrupção é um mal muito antigo.
Diante deste quadro, Pilatos não poderia negar um pedido dos judeus (matar Jesus). Não importava se inocente ou culpado. Seu dever era evitar atritos com os líderes religiosos, garantindo o fluxo de impostos para si e para o império.
Por quê Pôncio Pilatos aparece na Bíblia preocupado em defender a inocência de Jesus? Na verdade, o que estava em jogo era a absolvição de Pilatos, afirma o historiador Edgar Leite, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
c) O povo judeuA Bíblia narra que Pilatos propõe que os judeus escolham em soltar Jesus ou um bandido, Barrabás. A multidão escolhe o fora-da-lei. Diante disso, qualquer leitor é levado a aceitar o povo judeu como responsável pela morte de Jesus. Conforme diz o historiador Pedro Paulo Funari, da Unicamp, este fato é inverossímil. "Não existe nenhum outro caso conhecido em que um procurador romano fosse ouvir o que a população achava. Ainda mais se esse povo nem romano era". O que se tem como certo é a participação ativa da elite judaica, representada pelas autoridades locais e os sacerdotes, tendo à frente o sumo sacerdote Caifás.
Por quê condenar o povo Judeu?
O anti-semitismo é muito mais antigo que o cristianismo. A nação judaica foi construída através de longos e difíceis sacrifícios. Israel, cuja capital é Jerusalém, se encontra no Oriente Próximo, Ásia. Idioma: hebraico e o árabe. Israel é um país resultante da partilha da antiga Palestina (Jerusalém estava dividida até 1967 entre Israel e a Jordânia). Israel mantém constantes atritos com seus vizinhos árabes.
Falar sobre o povo judeu é um interessante tema para uma próxima oportunidade.
As acusações contra o povo judeu, que se espalham pelo mundo ao longo dos tempos, num nefando processo chamado anti-semitismo, por motivos que não importam no presente trabalho, teria como um dos fatores o nome de Judas. O nome "Judas" estaria etimologicamente ligado a "judeu". Seu gosto pelo dinheiro (30 moedas) foi generalizado para todo um povo. Santo Agostinho disse: "... enquanto Pedro representa a igreja, Judas representa os judeus..."
d) Jesus: A possibilidade de Jesus ter provocado sua morte não pode ser descartada. A investida violenta contra os vendilhões do templo deu inicio a grande revolta entre os participantes, bem como atingiu frontalmente as lideranças políticas e religiosas, envolvidas com a negociata. A sua presença era um perigo constante. Além do mais, João Batista tinha sido executado por Herodes, na Galiléia, por motivos banais. Jesus, com certeza, tinha consciência do perigo que corria. No entanto, sua morte traria grande impacto em prol da causa que sustentava. Isto não quer dizer que Jesus premeditou este desfecho.
III - O julgamento
Todo julgamento, em princípio, deve seguir uma máxima do direito que diz: "Não há culpa sem prova e nem crime sem cominação legal". De acordo com a análise dos atos praticados por Jesus, verificamos que ocorreram duas atitudes consideradas graves pelas autoridades judaicas, passíveis de punição: a primeira foi a expulsão dos "camelôs" do Templo e a segunda a acusação de blasfêmia por se declarar filho de Deus.
A expulsão dos mercadores do Templo, à luz da moral, não constitui uma falta grave, pelo contrário, visou preservar o respeito à casa de Deus. O fato de Jesus se dizer filho de Deus não é uma blasfêmia, pois Abraão e os demais patriarcas e profetas consideravam Deus como o supremo Senhor e, conforme diz a Bíblia, Deus afirmava ser os judeus o seu povo eleito, e Jesus era Judeu.
Disto se conclui que:
A condenação de Jesus foi uma farsa perpetrada com o objetivo de acobertar os atos imorais que vinham sendo praticados pela elite judaica (sacerdotes liderados por Anás, Caifás, escribas e anciãos) mancomunados com autoridades romanas, dentre as quais destacamos Pilatos e Herodes (que era judeu).
IV - A condenação
Por qual motivo Jesus foi condenado?
Jesus foi submetido a dois julgamentos: judeu e romano. O julgamento judeu teria sido uma investigação preliminar, não um julgamento. Outros afirmam que coube aos romanos apenas executar uma sentença judia. Segundo diálogo que João presenciou entre Pilatos (que não encontrava razões legais ou morais para condenar Jesus) e as autoridades judaicas, Pilatos diz: "Tomai-o vós mesmos e o julgai conforme a vossa lei". Os judeus responderam: "Não nos é permitido condenar ninguém à morte." Percebe-se através desse diálogo que a intenção das autoridades judaicas era matar Jesus e não simplesmente puni-lo. Surgiu, então, um problema de competência entre a justiça romana e a judaica. Pilatos diante do impasse, entregou Jesus aos soldados para que o castigassem e, em seguida, Jesus foi levado para ser crucificado.
Conclusão
Podemos agora, ao final desta análise, declinar nomes de supostos culpados pela morte de Jesus, sob o meu humilde ponto de vista, embora apoiado em fontes duvidosas, o que deixa um enorme campo para discussões.
Questionamento do Petrick:
1. De quem é a culpa pela crucificação: do povo ou de Pilatos?
Povo: Conforme constatamos através de documentos e relatos que chegaram até nós, o povo judeu aguardava, com ansiedade, um líder que os tirasse da condição de penúria e sofrimento em que viviam, cujos culpados eram os líderes judeus. O povo, em razão de sua humildade e miséria, não tinha expressão nenhuma que sensibilizasse as autoridades romanas, a ponto de contrariar um desejo de Pilatos (libertação de Jesus). Por outro lado, é impossível aceitar que um povo se manifeste contra um homem, que era judeu, e se empenhava em ajudar os pobres, enfermos e oprimidos, a ponto de pedir sua crucificação.
Pilatos: Pilatos teve uma participação muito grande na condenação de Jesus. Por quê?
Pilatos realmente não encontrava culpa em Jesus, porque Ele não havia cometido nada que violasse os princípios da lei vigente naquela época. (vide o princípio legal: "... não há culpa sem prova e nem crime sem cominação legal ...". No entanto, Pilatos não podia assumir sozinho a condenação e a transferiu para as autoridades judaicas: "Levai-O e aplicai a vossa lei". Este comportamento, aparentemente correto e justo, estava encoberto por dois importante motivos:
a) Era do interesse de Pilatos que Jesus fosse eliminado porque a sua presença atrapalhava a "negociata" do Templo (vide letra "a");
b) O povo judaico não aceitava o jugo romano e, portanto, ocorriam várias rebeliões contra as tropas romanas. Em razão disso, Pilatos não poderia contrariar as autoridades judaicas que pediam a morte de Jesus, para não provocar um descontentamento. Na verdade, Pilatos, lavando as mãos, salvou-se a si mesmo.
Pilatos, pela seu comportamento, a meu ver, seria enquadrado como co-autor da morte de Jesus.
2. Os soldados que crucificaram Jesus, embora cumprindo ordens, têm parcela de culpa?
Não têm culpa pela condenação, mas sim pela execução, levando-se em conta a necessidade de consumar o ato em razão de sua condição profissional. Vejamos em "O Livro dos Espíritos", Capítulo VI, item IV - Assassínio.
Questão 746: O assassínio é um crime aos olhos de Deus?
Sim, um grande crime, pois aquele que tira a vida de um semelhante interrompe uma vida de expiação ou de missão, e nisso está o mal.
Questão 747: Há sempre no assassínio o mesmo grau de culpabilidade?
Já o dissemos: Deus é justo e julga mais a intenção do que o fato.
Questão 749: O homem é culpado pelos assassínios que comete na guerra?
Não, quando é constrangido pela força; mas é responsável pelas crueldades que comete. Assim, também o seu sentimento de humanidade será levado em conta.
Devemos entender que "cada um tem o que merece, de acordo com suas obras" e o que conta nesses casos é a intenção de cada um.
3. Todos os que colaboraram para a sua condenação serão perdoados?
Perdoados por Deus ou pelos homens? Por Deus, com certeza. Pelos homens, não sei.
Cada um receberá o que merecer, de acordo com o seu grau de comprometimento. De uma coisa temos certeza, Deus é amor e não abandona ninguém. Todos alcançaremos, um dia, após vencermos nossas imperfeições, a condição de Espíritos Puros.
4. Até onde teria chegado o império de Jesus se não tivesse sido morto? Teria se tornado um grande rei ou imperador?
Acredito que a morte e a ressurreição de Jesus foram necessárias, pelos seguintes motivos:
a) Jesus revelou à humanidade o amor (Segunda Revelação).Portanto, as armas que Jesus utilizou para derrotar seus inimigos eram a paz, a solidariedade, a fraternidade, virtudes desconhecidas e ignoradas na época, cujo lema era: "Quem com ferro fere será ferido". Jamais Jesus derrotaria as grandes potências e impérios, constituídos de pessoas ainda no estágio da barbárie, com demonstração de amor e fraternidade.
b) A morte e a ressurreição de Jesus tornou-o um líder carismático e revelou que Deus existe e que a vida não se resume só ao plano material. A Doutrina Espírita nos revela a grandeza da obra de Deus e nos apresenta a maravilha de sua criação, da qual, felizmente, fazemos parte.
Se Jesus não tivesse sido morto, com certeza teria sido o maior rei ou imperador de todos os tempos, embora a humanidade fosse imperfeita. A sua gestão, embora divina, não faria milagres, pois milagre não existe.
Com isso concluo esse humilde trabalho que acrescentou muito à minha significativa ignorância, o que me leva a agradecer ao Petrick pela oportunidade que me ofereceu.
Bibliografia:
1. Revista "Veja" - 04/95;
2. Revista "Época" - 04/02;
3. "A Morte do Messias" - Padre Raymond Brown;
4. "Quem Matou Jesus" - John Domuinic Crossan;
5. "O Julgamento e a Morte de Jesus" - Hainn Cohn.
6. "Bíblia de Jerusalém", Paulus Editora.
7. "Estudo Perspicaz das Escrituras", Soc.Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1992.

Anízio Fernandes de Moraes – Centro Espírita Ismael – 05/ago/2004.